Já tentei de tudo, hoje nada me acalma esta já familiar ansiedade. O coração bate descompassadamente, a um ritmo vertiginoso, como se soubesse algo que eu não sei.
Dispo-me de todas as máscaras mundanas! E de roupa também… Deito-me nua, no chão gelado. Observo intensamente a minha pele arrepiada. Este frio é-me agradável!
Cerro os olhos como se assim pudesse apagar as imagens que me percorriam incessantemente o cérebro. Ferro ferozmente as unhas nas palmas das mãos como se assim te pudesse esmagar para sempre. Abro lentamente estas minhas pequenas mãos e espalmo-as contra o soalho inerte, como se desta forma pudesse criar estabilidade. Aceito, por fim, que algo em mim estava irremediavelmente quebrado, tu tiveras-me quebrado mas só agora era capaz de ouvir o estilhaçar.
Como um louco, que no seu epítomo de loucura redescobre a sanidade. Como se o batimento cardíaco descompassado fosse o compasso binário de uma revolução interna já há muito conspirada. Corro desenfreadamente pelos corredores ébrios da memória e revivo, mais uma vez e com um sorriso demente, uma panóplia de momentos díspares no tempo. Faço a promessa, à partida já quebrada, de nunca mais te reviver assim.
A Lei da Inércia tivera-se definitivamente quebrado em mim. Quando levantei do chão o meu corpo frio, olhei-me ao espelho. Durante semanas e semanas a fio, o que aquele espelho reflectira fora apenas e só uma versão espectral de mim com insuportáveis ecos de ti. Surpreendentemente esse não era mais o meu reflexo. Era eu, como nunca me tinha visto. Era eu, sem ecos. Era eu, sem máscaras. Era apenas eu, sem nada.